sexta-feira, 11 de março de 2011

Socorro (história - parte 1)



Faz cinco anos que estou na polícia. Meu motivo de entrada: perdi minha irmã caçula. Meu motivo de permanência: justiça com o "quê" de vingança. O grande problema é que estou na área errada. Sou responsável por atender telefonemas de socorro, ajuda, bêbados, trotes, crianças. Além disso, também sou o chamado "padrinho do turismo". Eu que acompanho a creche de escolas que vem ao departamento conhecer o nosso serviço. Claro que eu encho a mente inocente dos pequeninos de mundo perfeito de felicidade e justiça. O que, aliás eu, antes de iniciar o meu trabalho, também acreditava.

O dia em questão foi tranqüilo. Atendi cinco pedidos de ajuda urgente (assaltos e roubos) e 20 de trotes. E acompanhei duas excursões. Quando estava para bater o meu turno à meia-noite o telefone toca. Pensei em recusar com a minha mente aquele barulho irritante, aquele som que já machucava meus ouvidos. Mas sempre me pego imaginando minha irmã fazendo a ligação no dia de sua morte. Atendo.

- Polícial...
- Me ajude. - sussurra uma voz do outro lado da linha. - Tem alguém na minha casa.

Eu poderia seguir todos os procedimentos que são dados:  Nome e endereço. O que na verdade não é tão necessário, já que o sistema de informação da polícia demora cinco minutos para conseguir o local de chamada. Mas por algum motivo eu mudei o roteiro.

- Quem está na sua casa? - perguntei calmo.
- Eu não sei. - agora percebo que é mais que um sussurro. São lágrimas abafadas. - Ele matou os meus pais. Por favor me ajude!
- Em que parte da casa você está?
- Estou no armário do banhei... Óh, meu Deus. - o choro abafado e a voz assustada mudaram. - Ele está no quarto. Eu ouvi a porta se abrindo. Deus me ajude!. - o menino começa a rezar aos soluços.

Cai-me sobre a cadeira. Minha respiração estava fora de controle. Eu ouvia apenas a voz e as lágrimas da criança. E o pior de tudo. Eu sabia o que veria a acontecer em seguida. E o que eu iria pedir aquele menino seria ainda mais doloroso.

- Qual o seu nome?
- Henrique. - disse ele chorando. - Não deixa ele me achar. Por favor policial. Não deixa... 

Ele ficou mudo e no segundo seguinte eu soube por que. O assassino acabara de entrar no aposento. Era possível ouvir a porta do banheiro sendo aberta e os passos rasteiros e pesados do "sangue-frio" sobre o piso.

- Henrique. Ouça com atenção o que vou lhe pedir. Quando ele lhe achar diga todas as características que você ver nele. Todas.

Ele não respondeu. E não era preciso. A porta de seu esconderijo havia sido aberta. Ouvi um barulho forte como de um puxão e o pequeno garoto gritando para o assassino lhe soltar. Mas ele lembrou-se a tempo do meu pedido.

- Branco. Olho verde e azul. Cicatriz na sobrancelha. Lábio cortado. Tatuag...

Um. Dois. Três. Dez golpes sonoros doloridos. A voz de Henrique teve força suficiente para gritar até a metade depois disso restou-lhe o silêncio da morte.

O assassino não percebera que o celular ainda estava ligado. Somente depois do êxtase que a morte lhe causou que ele se deu conta. Pegou o celular e colocou sobre a sua face. Eu ouvia sua respiração. Afobada e realizada. Completa. Desligou.

2 comentários:

  1. Gostei bastante, Larissa! Você escreve muito bem. ;D
    Deu pra manter a tensão ou no mínimo o interesse em poucas linhas. Parabéns! =D

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  2. Okay vou comecar a ler... mais só vou comentar no ultimo

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