domingo, 19 de agosto de 2012

Você




Às vezes, você me dá asas para encontrar a imensidão
E outras, para não cair em vão, você me dá o chão.
Não sei explicar bem o que é, nem o que deve ser
Mas tenho a sensação de que surgiu para "viver".

É engraçado como você ainda me deixa sem jeito
Seus olhos encontram os meus sob algum efeito
E para alguns apenas um feito
Para nós, respeito.

Companheiros, amigos e amantes
Como se já tivéssemos nos conhecido antes
Você me beija a boca como da primeira vez
E seu sorriso me tira a timidez

Não posso garantir a eternidade
Mas lhe prometo minha fidelidade
Não diria que nos completamos
Mas nos "continuamos".



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Escrevo



Eu poderia escrever milhares de palavras cantadas ou faladas para dizer e ser quem sou.
Minha inspiração não tem um autor. Tem narrativa, personagens, cenários e música.
Escrevo o som mudo da vida de sonhadores
que calados mudam o mundo como verdadeiros arquitetos do Bem
Contorno as palavras presas na garganta de milhões. 
Desenho os contornos das falas de amigos, desconhecidos e inimigos.
Para mim um vicio. Para outros loucura.
Loucura boa que se conecta com outros...tantos...loucos.
Escrevo sobre um passado destinado, um presente ausente e um futuro concreto.
Que na minha cabeça vira poesia, prosa, crônica.
E por mais que eu escreva eu nunca vou me sentir satisfeita desta fome.
Pois meu lápis só cairá quando as linhas curvas que escrevo
não encontrarem mais a inspiração.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A última palavra (fim)

Iara procurou durante dez anos provas para salvar a alma inocente de seu irmão. Dez anos em busca de uma verdade que ele escondeu, para salvá-la. Porque por mais que ela encontrasse pequenos detalhes, nada comprovaria a verdade.Ela percebeu, por fim, que seu irmão jamais queria que ela deixasse a vida passar. Então, antes de partir de vez do Brasil, Iara deixou aquela mesma rosa no túmulo de seu irmão e pediu desculpas. Desculpas por falhar com ele, na vida e na morte. Partiu e nunca mais ouviu-se notícia da jovem jornalista, a não ser quando a Morte lhe levou pelo tempo.



Muitos anos se passaram e no lugar do cemitério passaria uma estrada. Foi necessário remover os corpos. E Ian contou a verdade depois de morto:

"Espero, sinceramente, que esta carta tenha sido encontrada anos e anos depois do ocorrido. Pois a verdade custa caro em um país comandado pela impunidade. Se você ainda vive no ano de 2012 ou até os próximos dez anos seguintes, peço com a alma, que esconda esta carta bem, ou então devolva ao meu corpo morto. Como disse, a verdade custa caro.


Independente se é um velho ou um jovem cheio de sonhos,não se permita desistir. Pois até na escuridão as estrelas te iluminam e existe um "farol" enorme te guiando. Eu, provavelmente, era como você. Acreditava em um mundo melhor, na justiça, na democracia, na educação, na saúde, na sociedade. Mas me deixei levar e deixei que me levassem. Não, eles não são culpados. O culpado é somente eu. Por perder o que mais eu apreciava: a liberdade!



Você provavelmente, lerá em jornais antigos a história de um empresário corrupto. Que levou políticos, policiais e homens de negócio do céu ao inferno. Na realidade, sempre foi um inferno, mas o luxo, o dinheiro e o poder nos lubridiavam. E que ser humano não se sentiria assim? Na realidade, nenhum. SER HUMANO não!



Sei que é tarde. Mas quero pedir perdão por decepcionar uma nação. Pois eis aqui todos os detalhes desta quadrilha de Monte Carlo: (...) "

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Dois anos.(continuação 1)



Ele tinha apenas 17 quando entrou para o curso de Direito. E ela 15 anos começando o primeiro ano do ensino médio. Ele tinha apenas 22 anos quando formou-se e conseguiu o primeiro emprego de verdade, antes eram apenas bicos ali e aqui. Ela tinha vinte anos e estava no segundo ano do curso de Jornalismo. Ele tinha apenas 25 anos quando se candidatou para a política e ela no estágio em um jornal local ligado a imprensa investigativa. Ele tinha apenas 30 anos quando suicidou-se e ela com 28 anos sabia o motivo.

Apenas dois anos separavam Ian de Iara. Apenas dois anos juntavam ambos nos estudos, nas fugas da escolas, nas idas ao cinema, nos segredos de irmãos, nas brincadeiras do parquinho, nas barbies atropeladas por carrinhos.

Iara sabia que o irmão não cometeria suicídio. Sabia porque ela, acidentalmente, o havia matado. Inocente, mas culpada. Culpada por exigir a verdade. E a verdade lhe ensinou: ou você segue o sistema ou ele te corrompe, te suga, te tortura e te mata. 

Ian sabia de todos os esquemas. Sabia da corrupção, da prostituição, do tráfico, da propina, da mala, dos caça-níqueis, das covas vazias, dos traficantes bem pagos, dos policiais silenciados. Ele sabia dos laranjas, das crianças, das drogas. Ele ouvia os sussurros, escutava as negociações e participava das trocas. Ele entrou no sistema. E de um simples advogado passou a ser "doutor". 

Mas o aliado vira inimigo. E Ian percebeu que fez acordo com o Diabo quando a pele de sua pele, sangue de seu sangue e alma de sua alma estava prometida à Morte. 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ela sabia...



Não precisavam lhe dizer que naquela chuva imprevissivel de dezembro, no cemitério da cidade aonde morava, o corpo de uma pessoa muito querida estava sendo enterrada. O vestido preto que usava clariava ainda mais sua pele já pálida. Não queria ser protegida pelo guarda-chuva, mas os entes insistiam. Por educação fez as vontades deles, mas no fundo desejava limpar a alma com as gotas da chuva.

Quem estava sendo enterrado, era pele da sua pele, sangue do seu sangue, alma da sua alma. Na madrugada anterior, recebera o telefonema dos pais lhe dizendo quem havia partido. Sempre acreditou que quando esta hora chegasse, ela seria capaz de sentir metade do seu ser partindo para o nada. Mas enganousse, somente sentiu esta dor quando o caixão desceu na terra molhada.

Permaneceu. Ficou até todos irem embora. E finalmente libertou a única lágrima que guardou durante todo o velório. E deixou mínimos detalhes de todas as lembranças tomarem a cabeça. As brigas, os abraços, as risadas, os consolos, as gracinhas e brincadeiras. Porque a última rosa deixada sobre o caixão deveria ser dela e de sua promessa.

Ela conhecia como ninguém seu próprio irmão. Ela sabia, simplesmente sabia, que ele jamais cometeria suicídio. E cumpriria sua promessa de fazer justiça. Ou vingança, se preciso.