quinta-feira, 31 de março de 2011

Que tamanho somos?



Acredito que todos sonhamos. Sonhamos porque acreditamos numa vida melhor e em um futuro mais promissor. Porque sonhar é libertar-se do universo real e comum. É acreditar que é possível mesmo quando todos dizem que não. É quebrar preconceitos e inovar os ideais. Mas,às vezes, em um mundo cheio de dificuldades, frustrações e dores, sonhar acaba se tornando difícil e banal. Acaba que sonhar é apenas um sonho  dos esperançosos.

Diante disso tudo surge o medo. E nem mais sonhar queremos. Porque temos medo da luta, da batalha, do percurso. Mas temos medo mesmo é de desistir. De falar pra nós mesmo que não fomos capaz, quando ACREDITÁVAMOS que éramos. Perder faz parte da vitória. Caia, mas levante-se. Se você foi capaz de correr a frente do que desejava, de caminhar nos percursos mais duvidosos e incertos, de escolher mesmo quando parecia não haver escolha; apresente-se. Porque você, sim, é um vitorioso. Desistir sem nunca ter acreditado não é vitória. É vexame. Porque este é o verdadeiro medo.

Logo, tenho uma dúvida: será o sonho, grande demais para um indivíduo?

quarta-feira, 30 de março de 2011

Passaremos pelo mundo



O milho e a cana estão ocupando terras
Produzindo combustível "ecologicamente correto"
Mas enche o bolso de milionários banais
E a fome do mundo aumenta ainda mais

Eu vejo pessoas criticando o avanço da tecnologia
Vejo jovens reclamando por desejos mesquinhas
E neste mesmo mundo existem pessoas com coragem
E jovens que por redes sociais conquistaram a liberdade com mais que mensagem

Tem dias que abalam o nosso interior
Mas existem terremotos que matam milhares
Vejo água invadindo casa e destruindo o avanço 
E afirmo: quanta força e esperança para reconstruir os pilares.

Mundo meu
Mundo seu
Mundo

Começou com o muro de Berlim caindo sobre a divisão do mundo
Um homem negro tomou posse da presidência nos Estados Unidos
Uma mulher presidente do Brasil
Será apenas notícia ou caminhamos para o futuro de sonhos não perdidos?

Hoje crianças crescem encubadas em computadores
Jovens se desenvolvem em diários não-pessoais no Twitter
Adultos tentam se enturmar nessa confusão
Será mesmo informação ou uma decadência percepção?

Os grandes líderes ficaram esquecidos
Os livros virarão relíquias
Poetas tornam-se latim
E nós passaremos...

Meu mundo
Seu mundo
Mundo



sábado, 26 de março de 2011

Apenas 1h



Eu tenho exatamente 38 minutos para escrever sobre uma atitude. O mundo esta se unindo hoje em favor de uma causa. De um bem maior. Todos por um. Esta é a hora do Planeta.

Para alguns pode parecer uma atitude idiota e até sem significado. Mas apague as luzes e reflita por algum momento. Não imagine um lugar cheio de vida e sorrisos. Não imagine uma árvore, não imagine uma cachoeira, nem um rio, nem um mar. Não imagine uma pedra, um tronco ou uma folha. Não imagine um cachorro, um gato ou um pássaro. Não imagine uma joaninha, nem um gafanhoto e muito menos uma lagartixa Não imagine as mais belas montanhas nem as mais lindas florestas. Não imagine as dunas de areia Não imagine o gosto daquela fruta saborosa nem a sua textura. Seria mais fácil se imaginássemos. 

Temos a habilidade de imaginar porque o planeta nos proporcionou a imagem e o momento. Imagine se este escuro fosse eterno? Se não houvesse se quer um sinal de vida? Apenas a sua respiração e o seu silêncio. Bem vindo a verdadeira solidão.

As luzes estão apagada da mesma forma quando nos calamos quando não temos palavras, ou choramos quando as mesmas somem. As luzes são o nosso silêncio para que o mundo e todos do mundo ouçam o nosso bem maior: o PLANETA.

(Não é tarde para apagar as luzes)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Admiração



O sinto algo estranho dentro de mim.  Uma pulsação diferente no meu coração. O meu sorriso parece ter mais brilho. E meus olhos mais vida. 

Eu sei que não houve um tempo certo e exato para me explicar. De lhe dizer onde minhas simples palavras não podem tocar. Onde nenhuma razão pode circular nas veias e artérias de um coração cheio de paixão. E por mais que eu enrole em palavras e em frases complexas e incompletas é impossível explicar-me. Como dizer à amigos que me sinto feliz por que amo mesmo não sendo amada? Como te explicar que meu mundo mudou com a sua reaparição, mesmo não tendo a sua presença?

Talvez, como já tente me explicar para alguns, seja mais admiração. Como das outras vezes. Ou talvez não. Mas não quero pensar no que pode ser ou vir a ser. Estou mais preocupada com a sensação estranha que me toma. Com a felicidade que me transborda.

E como venho escrevendo "nós ficamos melhor juntos, mas não cabe a mim e não depende de você o que o destino esta prestes a escrever". Se o amor surgir como a esperança que tenho ou se no meio do caminho o despertar da amizade for maior minha felicidade ainda sim permanecerá. Porque o futuro é incerto e só posso agradecer a todos e a você pelo presente que estão me proporcionando.

Obrigado a todos, sem exceção, por despertarem minha admiração.



segunda-feira, 21 de março de 2011

À Lua



Eu vejo um brilho intenso no céu escuro e adormecido pela noite. As nuvens tentam cobrir sua luz, mas a majestade impõe seu reino. O tom azulado misturado com o amarelo desperta a curiosidade dos atentos que a observam. Tão longe, mas tão tocante. Esta esfera irregular ilumina-me e como pudesse ela me ouvir eu digo: "Como a Lua está bonita!".

O simples elogio traz novos observadores do milagre da perfeição. Mas não é só a curiosidade que desperta em cada um de nós. Inexplicavelmente cada um abre um sorriso singelo como se pudéssemos agradecer por aquela imagem, aquela majestade. Lembranças boas nos tomam conta e a Lua nos permite o incomparável.

E meu olhar curioso e dos demais observadores nos proporciona uma conversa repleta de luzes, brilhos e sorrisos.

Um obrigado à Lua por iluminar-mos de felicidade quando, às vezes, o nosso céu está muito escuro para notá-la.

domingo, 20 de março de 2011

Onde vive?





Eu ouço tiros lá fora. Ouço gritos em cima de um caixão. Eu vejo lágrimas caindo sob o chão rachado. Me pergunto se aquela gota trará alguma vida. Se uma flor ou uma esperança irá nascer da dor. Onde vive o amor?

Às vezes meu silêncio faz eco na solidão. Consigo escutar minha respiração. Minha voz sufocada na minha garganta. Me pergunto se jovens são realmente corajosos ou se suas palavras e as minhas ficam somente em papéis sendo apenas uma miragem. Onde vive a coragem?

Estou cansada e ainda penso que tenho muito que viver. Olho famílias se desatando, se rompendo. Lágrimas de sangue sobre o chão do lar. Me pergunto o que o futuro me aguarda e se para a união eu conseguirei correr atrás. Onde vive a paz?

Eu não sei se consigo acreditar em todas as minhas mentiras de criança. Sei que ela ainda vive dentro de mim, mas às vezes chora. Chora pelo mundo. Chora em silêncio. E ainda sim conservo o sorriso de uma criança. Onde vive a esperança?

Há quanto tempo não vejo um sorriso apenas pela admiração do dia. Pelo milagre da vida. Estamos ocupados demais com o nosso tempo. Não conseguimos ver a alegria e acreditamos mais na maldade. Onde vive a felicidade?

(Só porque não vemos não significa que não existe. Os significados mais belos da vida estão na admiração dos sentimentos mais sublimes. Mas, acima de tudo, estão na sua libertação e concretização.)

sábado, 19 de março de 2011

Sabe o que eu queria?



Queria acordar todo dia com um abraço caloroso de uma pessoa amada.
Andar pelas ruas e vê uma beleza rara, ou simplesmente perceber que ela sempre estava ali pelo caminho

Queria poder dizer "eu te amo" sem medo de rejeição e com mais certeza
Encontrar com velhos amigos para relembrarem um passado que nunca realmente se tornou pretérito

Queria viajar pelo mundo sem rumo e para todos os destinos
Ver um pôr do sol junto com a pessoa amada sob o capô de um carro

Queria juntar a família para soltar muitas risadas
Acreditar que ao sair à rua minha vida ainda sim estará segura

Queria gritar, dançar, cantar sem que ninguém pensasse em loucura
Saber a hora de dizer o que deve ser dito

Queria poder acertar mais em vez de insistir em erros tolos
Me desapaixonar com a mesma rapidez com que me apaixono.

Fugir de certas mentiras e encontrar as mais sinceras verdades
Queria (realmente) estar ao seu lado

Respire fundo



Você já pensou que sua vida é como uma música? Um som incerto, mas perfeito para uma história. Criando linhas, palavras, poesia.

Respire fundo. Perceba os pequenos detalhes. A incrível sensação do toque. Sob o liso, o áspero, o rústico. Saborei o gosto da água. Invisível aos olhos. Use sua percepção além da rotina. Da sua retina. Sinta o paladar azedo e doce da vida. Aprecie o cheiro do perfumes das flores e das pessoas. Toque um coração. Com a alma ouça a paixão. Faça da sua vida não um quebra cabeça de uma memória, torne-a memorável.

Respire fundo. Apresente-se e converse. A maior parte de nossa vida é feita por pessoas que estão ao nosso lado. Cuide de cada conversa. Ouça cada gesto. Observe a fala. Mas acima de tudo escute. Porque uma música sem "letra" não é poesia.

terça-feira, 15 de março de 2011

Espero...

Me pergunto se as pessoas são realmente capazes de esperar.

Esperar a pessoa que se ausentou por força maior de um destino sem perdão. Se somos capazes esperar pela saudade, amizade, amor. Capazes de ocupar a ausência com uma prece para a pessoa que partiu antes de nós. Porque esperar é ter esperança de encontro, reencontro, milagre.

Esperar sabendo que o tempo é o maior inimigo e amigo. Porque os segundos que passam podem ser a confirmação de algo e, os que ainda não passaram, nos impedem de acreditar. 

Tem pessoas que esperam sem distancia. Esperam sem riscos. Sem medo.

Por algum motivo esperamos porque acreditamos numa promessa sem palavras. Feita da alma com a alma. Não é preciso papel nem voz. Basta apenas esperarmos.

(Mesmo vivendo-a, sou incapaz de entendê-la.)

Ouçam a música "Espero - Reação em Cadeia": http://www.youtube.com/watch?v=hf2hN2YDXQs



segunda-feira, 14 de março de 2011

Será? (história - final)



As chamas no carro de alguma forma reconfortavam minha alma. Talvez seja um pensamento duro. Mas pela primeira vez senti que agora a justiça estava sendo feita. Mesmo que não diretamente por mim. 

Com a caixa em minhas mãos eu já sabia qual seria o meu destino, a empresa Gênesis. Mas antes deveria abri-la. Saber porque Henrique e seus pais morreram, porque Paulo César faleceu. E principalmente, porque tiraram a vida de Karen.

Entrei no meu carro. Pus a caixa de madeira no meu colo. Senti medo de abri-la. De saber a verdade. Mas a confissão do passado era maior que minha angústia. Abri. 

Ali estava um gravador com marcas de sangue e junto dele a foto de minha irmã, Mirela e dois outros rapazes. Cada uma focado apenas em seus rostos. Peguei o gravador preto e apertei play.

"Espero não ser identificado nesta conversa." - era a voz de Paulo César.
"Não. O senhor não será." - disse uma voz feminina.
"Vamos rápido. O que querem saber?" - perguntou o enfermeiro impaciente.
"Foi você quem estuprou a menina que está em coma na hospital?" - perguntou Karen.

 Ouve-se risadas cínicas.

"Vocês acreditam mesmo nisso? Que eu estuprei aquela menina?"

Ouve-se um tapa na cabeça do enfermeiro.

"Responda em vez de fazer perguntas." - uma voz masculina.

Silêncio por alguns segundos.

"É o seguinte. Me acusaram de estupro só porque eu ajudava a cuidar dela e porque a menina apareceu grávida. Mas se querem saber. Ela não tinha nenhum sinal de abuso. E sinceramente, seu eu realmente tivesse feito algo àquela coitada a família já teria me procurado. Não é mesmo?"

Silêncio

"E por que nosso amigo Marcelo, o jornalista que te procurou, foi assassinado logo depois de falar com você? - perguntou Karen.

Paulo César gaguejou e foi preciso um outro tapa na sua cabeça. 

"Responda!". - de novo a voz masculina.
"Aquele jornalista estava mexendo o dedo onde não era chamado. Nós já tínhamos tudo combinado e planejado. Ninguém estava desconfiando de nada. Mas só foi este jornalista de merda chegar. Que ferrou tudo."
"Nós?" - perguntou a voz feminina. Agora eu consegui identificar, era de Mirela. - "Quem são nós? E o que vocês quis dizer com "ferrou tudo"?"

Silêncio acompanhado de um tapa.

"Estou perdendo a paciência com este cara." - era a voz masculina.
"Para Pedro!" - voz de Karen - "Deixa ele falar."
"Já está tudo ferrado mesmo. Mas saibam que todos vamos morrer. - disse Paulo César. - "A empresa do seu querido irmão estava fazendo pesquisa com células tronco..."
"A empresa dele sempre fez isso." - falou Karen.
"É mas o problema é que eles estavam "criando fetos", se é que vocês me entendem?"

Silêncio. Uma rangido no chão como se uma cadeira estivesse sendo arrastada.

"Está me dizendo que a empresa Gênesis está engravidando mulheres em coma para ter células tronco embrionárias?" - a voz de Pedro.
"Até que vocês são inteligentes." - riu o enfermeiro.
"Desliga isso" . - a voz da minha irmã. - "Desliga agora".


Coloquei o gravador de volta na caixa. Meu pensamento tentava focar em um único raciocínio. Minha irmã e sua morte. Minha empresa e a ética. Paulo César e a mulher em coma. Embriões. Células tronco. E tudo dentro da Gênesis sem que eu soubesse de nada. Eu não poderia perder mais tempo nem mais vidas. 

Acelerei o carro da polícia na direção do meu destino. E no caminho lembranças me incomodavam. A morte da minha mãe quando eu e Karen ainda éramos pequenos. A ausência de nosso pai. A minha responsabilidade pelo patrimônio. O abandono que deixei minha irmã. Os seus pedidos de ajuda e meus ouvido cerrados. As mortes. E tudo pelo dinheiro. Pela imagem. Pela Gênesis.

Parei o carro no estacionamento e na janela do meu escritório, no vigésimo andar, pude ver a imagem meio distorcida de uma pessoa. A única pessoa que poderia me dar explicações. 

Os seguranças ficaram surpresos com a minha visita, mas nenhum impediu a minha entrada. Entrei no elevador. E de novo aqueles pensamentos voltaram a me atormentar. Mas foram interrompidos quando o elevador parou e o visor indicou o 20º andar.

Ali estava um homem de costas. Alto, loiro, moreno claro, de terno escuro e gravata vermelha. Meu sócio. Aurélio.

- Sabia que você viria aqui quando descobrisse tudo que aconteceu. - ele se adiantou.
- Você sempre soube. Seu filho da mãe.  - eu gritava. - Engravidou uma pessoa em coma, matou pessoas inocentes e o pior de tudo tirou a pessoa mais importante da minha vida. E tudo isso pelo o quê?
- Pelo futuro.
- Futuro? Isto é anti-ético.
- Tem certeza? - seu tom de voz ganhou algo similar com esperança. - Filha. Vem aqui conhecer um amigo do papai.

Na porta a sua esquerda saiu uma menininha de dois anos. Cabelo preto na altura do ombro. Usando um vestido rosa e segurando uma boneca.

- Karen. Dê "oi" ao amigo do papai.

Karen? Sim. Aquela era Karen. Minha irmãzinha pequenininha. Eu me lembrava dela. Tímida. Calada.

- Entende porque é o futuro. - disse ele com as mãos no ombro da criança. - Achava mesmo que eu mandei engravidar aquela menina do hospital apenas por células tronco? Lógico que não. - disse ele agora em um tom mais sério, mas sem assustar Karen. - Claro que eu precisava de células tronco embrionárias. Elas ajudaram a construir este ser. - colocou uma das mãos na cabeça da criança.

Eu estava perdendo o ar. Não consegui ligar uma coisa na outra.

- Sabe qual a única desvantagem desta técnica?  - disse ele parecendo triste. - É que são preciso duas vidas para se fazer uma. Algo que é comum na natureza humana. Mas não com tamanha perfeição. - abaixou-se a beijou o rosto de Karen. - Um clone perfeito. 
- Você é louco. - disse.
- Loucura? Você acha mesmo que seja loucura? - disse ele pedindo com o olhar que a "filha" se retirasse. - Loucura é ver irmãos se matando. Filho drogado assassinar pai e mãe. Loucura é você abandonar este império pela tola da sua irmã.
- Não ouse. - gritei.
- Eu te fiz um favor. Isso sim. - disse ele me apontando o dedo. - Tirei aquele peso que sua irmã era e ainda promovi este lugar. Karen estava se intrometendo onde não era chamada. Eu apenas juntei o útil ao agradável.

Eu não podia mais ouvir aquilo. Coloquei a mão atrás da cintura para pegar o objeto que faria minha justiça. Mas antes, porém, senti algo frio me tomando. E uma dor no abdômen promoveu um calor incontrolável. Aurélio me acertou com um tiro de pistola. Minha visão ia ficando turva e escura. Meu corpo ia se encharcando do meu sangue. Eu estava morrendo.

Ouvi a porta se abrindo. Mas não conseguia identificar quem era. Ouvia vozes como ruídos. Sem expressões. Meu corpo foi erguido por uma mão. E vi o rosto de um dos jovens que tinham a foto na caixa de madeira. Era Pedro. Apaguei.

***

Seis meses depois...

Estou na casa da minha irmã. Vendo-a brincar. Se é assim que posso dizer de seu clone. Aurélio pegou prisão perpétua e nenhum advogado pretende trabalhar no seu caso. Voltei a trabalhar na Gênesis, mas dedico a maior parte das pesquisas para causas sociais.

No dia do incidente, Pedro, colega de minha irmã, apareceu com policiais. Só depois de algum tempo é que vim a saber que ele era na verdade um agente federal disfarçado de jornalista. No dia em que encontrei com Paulo César ele havia me seguido. Disse-me que desconfiava da minha participação nas mortes. Mas que tinha que ter certeza. Ninguém, além de eu e Pedro, sabemos que a pequena Karen é um clone.

Sempre que olho Karen me pego fazendo perguntas sobre ela. Será que minha irmã realmente morreu? Ou será que ela esta viva? Será realmente ela?

E,às vezes, no meio da noite acordo assustado. Me perguntando: será possível renascer uma vida?




domingo, 13 de março de 2011

A caixa (história - parte 3)



Cheguei em casa por volta das quatro horas da manhã. A perícia me encheu de perguntas sem lógica, como: "O senhor foi quem recebeu a ligação?", "Há que horas você chegou aqui?", "Você conhecia a família?", "Havia alguém na casa?" e tantas outras que não chegariam ao assassino. Somente a mim e àquele momento. Não mostrei aos meus companheiros os arquivos que havia conseguido, pois eu sabia que se eles o tivessem em mãos não permitiram minha participação no caso.

Como já disse eu era o responsável por atender ligações e fazer o passeio turístico. Eu servia de piada para os outros policiais. Afinal de contas só porque eu era o antigo empresário milionário isto não significava que eu iria ficar na área mais prestigiada da polícia. Pelo contrário, meus superiores estavam mais preocupados com a minha segurança. E com certeza o meu trabalho não oferecia risco algum.

Deixei os arquivos sobre a cama. Deste a morte de Karen passei a viver na sua casa. Acreditava que eu morando lá poderia passar o tempo que não passei com ela. Tomei o banho mais frio que pude na tentativa de apagar as memórias que tinha visto. Era apenas uma tentativa. Coloquei a bermuda do pijama e sentei-me sobre a cama. 

Olhei os arquivos e não via nada de interessante. Apenas papéis sobre ONG's, serviços de apoio a hospitais, asilos e creches. Mas três me chamaram a atenção. O primeiro era sobre a minha empresa. Claro que eu trabalhando na polícia não deixei de ter informações sobre ela. Mas nada que me ocupasse mais que meu trabalho atual. Afinal, eu era o dono de um império de dinheiro. Este papel em questão falava sobre uma nova pesquisa com células troncos embrionárias que avançava de forma estrondosa, todavia precisava de apoio do governo.

O segundo era um pedaço de jornal. Contado o caso de uma menina em coma que ficou grávida. A polícia nunca encontrou o estuprador. Mas segundo informações a desconfiança estava sobre um dos enfermeiros. 

O último pedaço de papel foi o que me assustou. Era uma carta de Karen para Mirela, sua amiga recém assassinada.

"Temos que contar ao meu irmão o que descobrimos. Mirela, isto é muito maior do que imaginamos. Eu tenho certeza que ele não sabe o que a empresa dele esta fazendo. Ele pode ser um tanto contraditório a mim, mas ele jamais feriria a ética desta forma.

Vou me encontrar com o enfermeiro que está sendo acusado. Eu tenho certeza de que não é ele o culpado.

Obs.: Melhor pararmos de nós falarmos. Acho que estamos sendo vigiadas."

Deixei a carta deslizar sobre meus dedos e cair sobre o chão de madeira. Minha irmã sabia algo a respeito da minha empresa e a todo momento queria me dizer. Lembrei-me então da semana da sua morte. No meu celular havia dez chamadas não atendidas dela. A minha secretária disse que ela queria falar comigo e todas as vezes eu lhe pedia para dizer que eu estava em reunião ou que havia saido.

Um dia antes da sua morte ela apareceu em frente à Genisis para falar comigo. Estava sem fôlego. E eu andava a caminho do meu carro. Disse que tinha que me dizer algo urgente, mas que deveria ser em particular. Sem ninguém da empresa, nenhum segurança, nenhum empresário por perto. E eu apenas respondi.

- Você já é adulta o bastante para lhe dar com seus problemas.

E fechei a porta.

Levantei-me da cama em um salto e peguei o celular que Henrique havia me ligado. Haviam ligações para médicos, marido, escola e várias para Paulo César. Nome do enfermeiro que li no pedaço de jornal. Liguei para ele e uma voz sonolenta atendeu. Disse para ele não desligar, informei quem era e do que se tratava. Paulo César ficou agitado com a notícia e me disse que caso eu quisesse conversar com ele que aparecesse em sua casa daqui duas horas, pois ele fugiria. 

Como combinado apareci no local de encontro que aliás me surpreendeu muito. Claro que médicos, cirurgiões, empresários e pastores ganham fortunas; mas não esperava isto de um enfermeiro. Sua casa tinha dois andares, piscina, era bem localizada e planejada. Paulo César terminava de colocar as malas no carro quando me aproximei. E antes de me apresentar ele se adiantou:

- Eu sei quem o senhor é. Não precisamos perder tempo nos apresentando. Não teremos tempo de conversar. Por isso tudo que sei está aqui dentro. - me entregou uma pequena caixa de madeira.

Fechou o porta-mala e dirigiu-se para a porta do motorista.

- O senhor tem saber que agora corre perigo. - disse ele olhando-me nos olhos. - Sempre achei que o senhor soubesse. Afinal era a sua empresa. - ele agora olhava para o sol. - Fiquei surpreso quando sua irmã veio me procurar a seis anos atrás. E pensei que esta história tinha acabado. - Ele abriu a porta do carro. - Mas a cinco dias a amiga maluca dela apareceu aqui em casa junto com o filho. Coitado...

Fechou a porta do carro e ligou o motor. Deu ré e endireitou o carro na pista. Abriu a janela e disse:
- Não digo que não tenho culpa. Era apenas uma questão de aproveitar a oportunidade dada. - fechou a janela e partiu.

Fiquei calado o tempo inteiro e em nenhum momento o impedi. Eu observava  o carro deslizar sobre a pista em direção ao nascer do sol. Parecia uma fuga digna, antes que o carro explodisse a duzentos metros de sua partida.

sábado, 12 de março de 2011

O destino (história - parte 2)



Eu estava sentado na cadeira. Não conseguia pensar. O zumbido do telefone desligado ainda estava na minha cabeça. Mas o que me perturbava era a respiração que eu havia escutado. Uma respiração que não deveria existir. Que devia ser calada. Quando me dei conta que nosso decodificador de chamada havia conseguido o endereço de Henrique já haviam passados alguns minutos.

Sai do departamento de polícia e fui direto a uma ruazinha próxima a periferia. Com certeza as pessoas dali não tinham as melhores condições, mas tinham as necessárias. Parei-me em uma esquina e pude ver a casa de Henrique. Escura. Deserta. Silenciosa. Olhei-a com atenção e me lembrei de seis anos atrás.

***

A casa da minha irmã estava cheia de repórteres, policiais e curiosos. Antes de chegar eu havia recebido uma ligação da polícia pedindo que eu comparecesse ao local. Não perguntei o por que com medo da resposta. Apenas disse que poderia estar lá em uma hora, pois estava em uma reunião. Grosso e rude. Este era eu. 

Eu e minha irmã éramos muito ligados até a mesma completar dezesseis anos. Com dezoito anos eu tive que assumir a empresa de nosso pai. Um milionário falecido que tinha seu patrimônio avaliado em milhões. A diferença de idade entre eu e Karen, minha irmã, era de cinco anos. Quando assumi a empresa, eu a via sonhando dizer que seria como eu, uma empresária. Só que a convivência com pessoas das mais variadas classes e seu senso de igualdade lhe tomaram conta. Largou os estudos de Administração na faculdade para fazer Ciências Sociais. Envolveu-se em passeatas, trabalhos com ONG's, assistência social. Tudo que tivesse alguma coisa contra os meus ideais capitalistas, ela participava.

Deste modo, quando a policia ligou, eu pensei que fosse mais uma confusão que minha irmã havia se metido. E ela estava negando a ordem de prisão. Se fosse só isso eu resolveria. Mas nem todo o meu dinheiro, minha fortuna, meu patrimônio e meu poder poderiam resolver.

Quando vi todos aqueles repórteres pensei que já tivessem começado a planejar mais uma capa de jornal com os seguintes dizeres: " A irmã alternativa em mais uma confusão"; ou "O irmão rico salva mais uma vez"; ou "O oposto que ajuda.". Mas a manchete daquela manhã não seria esta.

Policiais de amontoaram a minha volta. Impedindo qualquer empecilho. E pelo caminho eu ficava com a cabeça baixa. Ao entrar na porta principal da casa eu vi uma mancha imensa de sangue. Assustei-me e tirei os óculos escuros. A porta se fechou atrás de mim. O mundo la fora estava em silêncio. Algo pesado o bastante havia passado em cima do sangue, formando um caminho até a sala de jantar. Ali, próximo a entrada da cozinha estava o corpo de Karen, minha pequena, minha irmã, minha anja. 

***

Sai do carro. Corri até a esquina onde ficava a casa de Henrique. Atravessei a grama seca e cheia de barro. Tirei a arma e a lanterna da cintura. Entrei.

Haviam cortado a luz da casa. A parte de dentro era bastante organizada. Havia dois sofás na entrada com uma mesinha de centro e uma televisão no vão do armário grudado na parede. Já era possível ver um pedaço da cozinha e também as pernas de alguém. Entrei cauteloso e vi o corpo da mãe de Henrique. Suas pernas estavam quebradas e o assassino havia matado-a cortando o seu pescoço. Uma morte rápida e pouco dolorosa. Ao seu lado estava o corpo de seu marido. O assassino havia lhe tirado os olhos e deu-lhe uma facada no centro do peito. Só depois que observando com atenção aquelas duas pessoas notei que eram conhecidas.

Aqueles corpos eram de amigos da faculdade de Ciências Sociais da minha irmã. Na época eu e Karen nos dava-mos parcialmente bem. Ela pediu a minha ajuda para oferecer apoio a gravidez da amiga. Além de ter consulta nos médicos mais recomendados eu ainda dei-lhe um enxoval completo.

A lembrança foi suficiente para voltar a sala e tomar rumo ao corredor. Entrei no quarto do casal e vi que a cama havia sido revirada e as portas dos armários abertas. Lugares que cabiam uma criança. O assassino estivera ali. Olhei para a parede da direita e vi uma porta entre-aberta. Era a porta do banheiro. Medo. Foi o que senti.

Eu ordenava meu corpo a seguir, mas ele não obedecia. A tensão era maior do que eu imaginava. Mas segui e abrir a porta. Uma sensação muito ruim me tomou conta. Uma ânsia de vômito quase que incontrolável. O assassino depois das dez facadas sobre o corpo do pequeno menino ainda foi capaz de separar os braços, pernas e cabeça do corpo. O banheiro estava tomado pelo seu sangue. Por cada gota de seu sangue.

Pela primeira vez eu tomei uma ação consciente. Liguei para a polícia. E tive tempo suficiente para pegar o máximo de arquivos, papéis e documentos que eu consegui do casal antes dos meus companheiros chegarem. E ainda peguei o objeto mais preciso da cena do crime: o celular.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Socorro (história - parte 1)



Faz cinco anos que estou na polícia. Meu motivo de entrada: perdi minha irmã caçula. Meu motivo de permanência: justiça com o "quê" de vingança. O grande problema é que estou na área errada. Sou responsável por atender telefonemas de socorro, ajuda, bêbados, trotes, crianças. Além disso, também sou o chamado "padrinho do turismo". Eu que acompanho a creche de escolas que vem ao departamento conhecer o nosso serviço. Claro que eu encho a mente inocente dos pequeninos de mundo perfeito de felicidade e justiça. O que, aliás eu, antes de iniciar o meu trabalho, também acreditava.

O dia em questão foi tranqüilo. Atendi cinco pedidos de ajuda urgente (assaltos e roubos) e 20 de trotes. E acompanhei duas excursões. Quando estava para bater o meu turno à meia-noite o telefone toca. Pensei em recusar com a minha mente aquele barulho irritante, aquele som que já machucava meus ouvidos. Mas sempre me pego imaginando minha irmã fazendo a ligação no dia de sua morte. Atendo.

- Polícial...
- Me ajude. - sussurra uma voz do outro lado da linha. - Tem alguém na minha casa.

Eu poderia seguir todos os procedimentos que são dados:  Nome e endereço. O que na verdade não é tão necessário, já que o sistema de informação da polícia demora cinco minutos para conseguir o local de chamada. Mas por algum motivo eu mudei o roteiro.

- Quem está na sua casa? - perguntei calmo.
- Eu não sei. - agora percebo que é mais que um sussurro. São lágrimas abafadas. - Ele matou os meus pais. Por favor me ajude!
- Em que parte da casa você está?
- Estou no armário do banhei... Óh, meu Deus. - o choro abafado e a voz assustada mudaram. - Ele está no quarto. Eu ouvi a porta se abrindo. Deus me ajude!. - o menino começa a rezar aos soluços.

Cai-me sobre a cadeira. Minha respiração estava fora de controle. Eu ouvia apenas a voz e as lágrimas da criança. E o pior de tudo. Eu sabia o que veria a acontecer em seguida. E o que eu iria pedir aquele menino seria ainda mais doloroso.

- Qual o seu nome?
- Henrique. - disse ele chorando. - Não deixa ele me achar. Por favor policial. Não deixa... 

Ele ficou mudo e no segundo seguinte eu soube por que. O assassino acabara de entrar no aposento. Era possível ouvir a porta do banheiro sendo aberta e os passos rasteiros e pesados do "sangue-frio" sobre o piso.

- Henrique. Ouça com atenção o que vou lhe pedir. Quando ele lhe achar diga todas as características que você ver nele. Todas.

Ele não respondeu. E não era preciso. A porta de seu esconderijo havia sido aberta. Ouvi um barulho forte como de um puxão e o pequeno garoto gritando para o assassino lhe soltar. Mas ele lembrou-se a tempo do meu pedido.

- Branco. Olho verde e azul. Cicatriz na sobrancelha. Lábio cortado. Tatuag...

Um. Dois. Três. Dez golpes sonoros doloridos. A voz de Henrique teve força suficiente para gritar até a metade depois disso restou-lhe o silêncio da morte.

O assassino não percebera que o celular ainda estava ligado. Somente depois do êxtase que a morte lhe causou que ele se deu conta. Pegou o celular e colocou sobre a sua face. Eu ouvia sua respiração. Afobada e realizada. Completa. Desligou.

Liberdade



É como um suspiro dentro de você. É possível ouvir o próprio coração batendo, saltitando, pulando, pulsando. A paz e a confusão lhe tomam conta. Numa briga constante de pertubação e calma. De euforia e tranqüilidade. A felicidade surge. Num sorriso breve e bem humorado. Tímido de mentira e vergonha. E esperto como uma conquista planejada pelo olhar. 

Às vezes você sente um arrepio leve. Causado pelo toque na nuca, pela fala próxima aos lábios ou pelo simples fato do momento, da presença, do instante. Suas mãos tremem em pensamento. Sua voz tem eco nas suas idéias, mas é muda na realidade. O abraço é a única libertação daquela agonia e "sofrimento". Mas se as faces se tocam ligeiramente; se o coração bate, saltita, pula e pulsa naquela hora. Não há mais hora que segure, nem tempo que impeça. O fato premeditado. O beijo concretizado.

(Ai se fosse fácil escrever em palavras este belo acontecimento)

A paixão conquista o ser humano pelo olhar. Domina-o pelo suspiro e pelo toque. Mas é impossível ela tornar-se amor se não pela "libertação". Pois "dois" só se tornam "um" quando "um" aceitar a presença de "dois". Como em uma música do Jota Quest: "A nossa liberdade é o que nos prende.".

quinta-feira, 3 de março de 2011

Rastros

Eu acordo com o sol ainda amanhecendo
Acordando a grama, as árvores, os arbustos
Iluminando os prédio e casas, portas e janelas

Os raios atingem meu rosto e me preparam
Para o dia, para o rotina, para a vida
Uma força me conduz e me carrega
E quando percebo, já estou desperta

O tempo passa rápido
Tão rápido como um olhar, um momento, um pensamento.
O tempo escorrega em minhas mãos macias e ásperas
E o que eu ainda quero é tempo para se ter asas.

Lá de cima queria ter a visão de um gavião
Para que eu pudesse enxergar o horizonte
Voltando a acreditar que limites não existem
E que o obstáculo a frente está somente na minha mente

Não posso recriar as páginas já lidas e escritas
Não posso desfazer um ato
Nem mesmo um passo
Mas sei que não deixei apenas rastros

Faço uma prece antes de me deitar
Rezo para que Alguém possa me escutar
Fecho os olhos na esperança de um sonho
Onde posso sentir a alegria como desta poesia.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Cadê?

Eu não tenho a mínima idéia do que escrever. Não é pela a falta de acontecimentos, de emoções, de sonhos. Não é pela falta de vocês, de momentos ou pela falta de tempo. Mas está faltando algo. Um sentido ou  um sentimento. Uma razão, um motivo. Algo que me dê uma inspiração.

Talvez uma música me ajude a criar uma letra. Uma frase. Um texto. Ou quem sabe lembranças e passados. Talvez eu precise da certeza de um futuro para me sentir inspirada ou me deixar guiar pelo presente inconstante e incerto.

Tem um mundo ai fora me rodeando e eu não sei o que escrever. Tem um sol a se esconder diante das nuvens do meu pensamento e gotas caem como palavras vazias. Eu preciso de uma razão, de um sinal. Preciso de liberdade. Me libertar das mentiras, das falsas verdades e ilusões. Me libertar de mim.

Quero criatividade para escrever, desenhar, pensar, falar, agir, atuar, fazer. Quero "querer" porque é mais fácil que "poder" e "ter". Quero minha inspiração!