sábado, 12 de março de 2011

O destino (história - parte 2)



Eu estava sentado na cadeira. Não conseguia pensar. O zumbido do telefone desligado ainda estava na minha cabeça. Mas o que me perturbava era a respiração que eu havia escutado. Uma respiração que não deveria existir. Que devia ser calada. Quando me dei conta que nosso decodificador de chamada havia conseguido o endereço de Henrique já haviam passados alguns minutos.

Sai do departamento de polícia e fui direto a uma ruazinha próxima a periferia. Com certeza as pessoas dali não tinham as melhores condições, mas tinham as necessárias. Parei-me em uma esquina e pude ver a casa de Henrique. Escura. Deserta. Silenciosa. Olhei-a com atenção e me lembrei de seis anos atrás.

***

A casa da minha irmã estava cheia de repórteres, policiais e curiosos. Antes de chegar eu havia recebido uma ligação da polícia pedindo que eu comparecesse ao local. Não perguntei o por que com medo da resposta. Apenas disse que poderia estar lá em uma hora, pois estava em uma reunião. Grosso e rude. Este era eu. 

Eu e minha irmã éramos muito ligados até a mesma completar dezesseis anos. Com dezoito anos eu tive que assumir a empresa de nosso pai. Um milionário falecido que tinha seu patrimônio avaliado em milhões. A diferença de idade entre eu e Karen, minha irmã, era de cinco anos. Quando assumi a empresa, eu a via sonhando dizer que seria como eu, uma empresária. Só que a convivência com pessoas das mais variadas classes e seu senso de igualdade lhe tomaram conta. Largou os estudos de Administração na faculdade para fazer Ciências Sociais. Envolveu-se em passeatas, trabalhos com ONG's, assistência social. Tudo que tivesse alguma coisa contra os meus ideais capitalistas, ela participava.

Deste modo, quando a policia ligou, eu pensei que fosse mais uma confusão que minha irmã havia se metido. E ela estava negando a ordem de prisão. Se fosse só isso eu resolveria. Mas nem todo o meu dinheiro, minha fortuna, meu patrimônio e meu poder poderiam resolver.

Quando vi todos aqueles repórteres pensei que já tivessem começado a planejar mais uma capa de jornal com os seguintes dizeres: " A irmã alternativa em mais uma confusão"; ou "O irmão rico salva mais uma vez"; ou "O oposto que ajuda.". Mas a manchete daquela manhã não seria esta.

Policiais de amontoaram a minha volta. Impedindo qualquer empecilho. E pelo caminho eu ficava com a cabeça baixa. Ao entrar na porta principal da casa eu vi uma mancha imensa de sangue. Assustei-me e tirei os óculos escuros. A porta se fechou atrás de mim. O mundo la fora estava em silêncio. Algo pesado o bastante havia passado em cima do sangue, formando um caminho até a sala de jantar. Ali, próximo a entrada da cozinha estava o corpo de Karen, minha pequena, minha irmã, minha anja. 

***

Sai do carro. Corri até a esquina onde ficava a casa de Henrique. Atravessei a grama seca e cheia de barro. Tirei a arma e a lanterna da cintura. Entrei.

Haviam cortado a luz da casa. A parte de dentro era bastante organizada. Havia dois sofás na entrada com uma mesinha de centro e uma televisão no vão do armário grudado na parede. Já era possível ver um pedaço da cozinha e também as pernas de alguém. Entrei cauteloso e vi o corpo da mãe de Henrique. Suas pernas estavam quebradas e o assassino havia matado-a cortando o seu pescoço. Uma morte rápida e pouco dolorosa. Ao seu lado estava o corpo de seu marido. O assassino havia lhe tirado os olhos e deu-lhe uma facada no centro do peito. Só depois que observando com atenção aquelas duas pessoas notei que eram conhecidas.

Aqueles corpos eram de amigos da faculdade de Ciências Sociais da minha irmã. Na época eu e Karen nos dava-mos parcialmente bem. Ela pediu a minha ajuda para oferecer apoio a gravidez da amiga. Além de ter consulta nos médicos mais recomendados eu ainda dei-lhe um enxoval completo.

A lembrança foi suficiente para voltar a sala e tomar rumo ao corredor. Entrei no quarto do casal e vi que a cama havia sido revirada e as portas dos armários abertas. Lugares que cabiam uma criança. O assassino estivera ali. Olhei para a parede da direita e vi uma porta entre-aberta. Era a porta do banheiro. Medo. Foi o que senti.

Eu ordenava meu corpo a seguir, mas ele não obedecia. A tensão era maior do que eu imaginava. Mas segui e abrir a porta. Uma sensação muito ruim me tomou conta. Uma ânsia de vômito quase que incontrolável. O assassino depois das dez facadas sobre o corpo do pequeno menino ainda foi capaz de separar os braços, pernas e cabeça do corpo. O banheiro estava tomado pelo seu sangue. Por cada gota de seu sangue.

Pela primeira vez eu tomei uma ação consciente. Liguei para a polícia. E tive tempo suficiente para pegar o máximo de arquivos, papéis e documentos que eu consegui do casal antes dos meus companheiros chegarem. E ainda peguei o objeto mais preciso da cena do crime: o celular.

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