sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Continuação II

O pen drive estava com manchas de sangue. Samantha pegou-o em suas mãos. Era um objeto tão simples e seguro e ao mesmo tempo tão grandioso e misterioso. Ela tinha a sensação de que ali estariam suas respostas. Tinha receio de entregar o objeto à polícia e esta não a vê-la como vítima e sim como suspeita. Afinal quem acreditaria na história de uma jovem bêbada?




Descansou um pouco. Com o pen drive de baixo de seu travesseiro. Acordou com uma sensação mais tranqüila do que do dia anterior. Pegou uma roupa qualquer na mala e deixou separada sobre a cama, enquanto preparava-se para tomar um banho. Sob o chuveiro onde a água, mesmo que com aparência um tanto a desejar, tranqüilizava seu corpo e mente. Ela tocava levemente o cabelo enquanto a água jorrava sobre seu corpo limpando a sua alma. “A água é um lugar seguro”, pensava. Nesse ambiente de suposta segurança ela ainda tinhas flashs do que houve na noite do assassinato. Ela não havia fechado toda a porta do banheiro naquele quarto de motel. Uma pequena fresta estava aberta dando para ver a escuridão do outro cômodo. A cabeça estava girando demais para ela se concentrar em um foco qualquer. Mas lá estava. Uma sombra havia sido formada sobre o chão iluminado pela luz do luar. Ela desligou o chuveiro.



Samantha não tinha certeza se o que lembrava havia realmente acontecido ou era um desejo íntimo de acreditar que tinha. E mesmo se tivesse acontecido e o assassino a tivesse visto isso significava que ela agora se tornaria a próxima presa. Samantha antes achava que seu mundo estava perdido, contudo, agora, tinha certeza. Ela seria procurada pela polícia e pelo assassino. A primeira ainda não a tinha como suspeita o que lhe daria mais tempo, todavia o segundo ainda era uma incerteza.



Vestiu-se e desceu as escadas. Perguntou ao jovem da recepção que devia ter seus 17 anos com acne por toda parte do rosto, onde encontraria uma Lan House mais próxima.

- A senhora pode atravessar a avenida e seguir em direção ao posto. Lá você encontra uma Lan House. – disse sem nem prestar atenção nela e olhando uma revista de computação.

- Muito obrigada.



Samantha desceu as escadas, atravessou a avenida e foi na direção do posto. Nunca vira uma Lan House tão jogada às traças. Os computadores deviam ser de vinte anos atrás. Desacreditava até se eles tinham entrada usb. Se tivesse seria apenas o do atendente. Um rapaz musculoso que olhava uma revista de pornografia.

- Com licença – disse a jovem.

O rapaz a olhou e num instante abaixou a revista e se pôs de pé.

- Em que posso te ajudar Gracinha? - perguntou olhando os seios de Samantha.

- Primeiro. – disse ela colocando a mão sobre o queixo do rapaz e levantando-o na altura dos seus olhos. – me olhe nos olhos. Segundo, não me chame de “Gracinha” e; terceiro, um computador onde eu possa conectar meu pen drive.

O rapaz percebeu o tom sério de Samantha e imediatamente parou com as brincadeiras. Ele lhe ofereceu seu computador, já que, como ela imaginava, era o único com entrada usb.



Samantha pegou aquele objeto tão minúsculo em tamanho, mas tão grandioso em informação e o conectou no computador. Percebeu que o garoto que a atendera ainda continuava atrás dela observando o que ela fazia.

- Com licença. – disse ela falando com o rapaz.

- A não. Eu te ofereci meu computador. Deixei-me ver no que você irá mexer. – disse ele rindo.

Samantha simplesmente pegou sua carteira e mostrou um papel plastificado para o garoto. Era o seu registro na Polícia Federal. Ganhou quando passou no concurso público aos 20 anos. No mesmo dia que sua irmã anunciou que iria para os EUA. Samantha na verdade estava em período de afastamento do trabalho, mas lhe permitiram que ficasse com as credenciais que tinha, exceto as armas.

O garoto parou de bisbilhotar, mas ainda sim mostrava-se curioso com tudo aquilo e vez ou outra dava uma espiada por cima da revista de pornografia.



Samantha abriu o pen drive. Havia apenas fotos de uma família americana que ela tinha a sensação de conhecer, mesmo que nunca estivesse nos EUA. Havia também alguns artigos de jornal, entrevistas, notícias. Procurando mais detalhadamente, Samantha viu um arquivo com seu nome. Pensou que fosse uma brincadeira, mas não era. O arquivo tinha seu nome completo. Com informações de sua vida e de sua irmã. O ano em que se formaram no ensino médio, as escolas de inglês e francês que freqüentaram, os amigos que tinham, as festa que foram. Tudo estava ali. Cada detalhe, cada informação. O nome Sofia aparecia a todo o momento, mas Samantha somente foi se dar conta da importância do nome da irmã quando viu:



“Sofia desaparecida em...”



Não tinha continuação. O nome Sofia estava em negrito. Samantha colocou o indicativo do mouse sobre o nome da irmã procurando um significado para tudo aquilo. Desejando que ela voltasse. “Ela saberia o que fazer”, pensou.

- Olha que interessante. – disse o garoto da recepção – é um arquivo.

Samantha levantou o rosto e percebeu o que o garoto estava dizendo. O nome da irmã não estava em negrito porque o colocaram daquela forma e sim por ser um tipo de arquivo que poderia ser aberto. Samantha clicou no nome e apareceram diversas, mais de milhares de imagens. Minúsculas, grandes, médias. Nenhuma tinha conexão com a outra. Fotos de rostos, sorrisos, plantas, beijos, animais, paisagens, pessoas, lugares, monumentos, objetos. Não dava para identificar de tão rápido que apareciam. Ela e o garoto ficaram cerca de cinco minutos observando a tela esperando algo novo. Mas depois que as imagens acabaram a tela do computador voltou à página do documento.



Samantha teve apenas um pensamento: “É uma mensagem codificada.”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário