sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Eu não sou


Hoje fui ao hospital de novo. Para fazer ultrasonografia. Não, eu não estou grávida. Como disse minha irmã gêmea "só se for do divino espírito santo". A primeira vez que eu fui foi para fazer endoscopia, mas não vem ao caso discutir meus problemas.

Hoje, quando estava no corredor esperando para pegar o resultado do meu exame, uma senhora já idosa com seus 80 anos sentou-se ao meu lado com um sorriso no rosto. Naquela hora vi a minha avó olhando para mim. Deu uma saudade. Muita saudade. Lembro-me que minha avó sempre nos perguntava o que queríamos para o lanche, sendo que havíamos acabado de almoçar (coisa de vó). Lembro-me que toda manhã quando acordava no antigo barracão de Catalão ela me perguntava se eu queria escaldado (ÔôÔô trem bãooo) e não tinha como recusar.

O que me chateia é que quando Dona Julia (minha vózinha) era viva e minha mãe vivia insistindo para ficarmos com ela ao invés de irmos ao hotel da minha tia (www.maraturismo.com.br) eu ficava emburrada porque queria brincar com meus primos, nadar na piscina e mexer no computador. Hoje, quando estou em Catalão o que menos faço é sair da casa da minha vó. Diz um velho ditado que "só aprendemos a dar valor depois que perdemos". E realmente é assim. Desejaria nesse momento voltar no tempo e dizer ao meu velho "eu" o imenso valor que minha avó tem e não deixar ele desperdiça nenhum momento com ela. Além disso, entregaria ao meu velho "eu" uma poesia:


"Eu não sou...
Simplesmente não sou...
Não sou a pessoa que você foi e sempre será
Não sou a pessoa que gostaria de ser.
Não tenho as mãos grossas
Grossas pelo seus grandes feitos, pela sua coragem, garra.

Não tenho seu dom
De amar, acolher, ajudar e compreender.
Não tenho sua força
Não tenho sua fé
Não tenho a sua alegria de viver
Simplesmente não tenho...
Mas guardo no meu coração
O amor eterno que você me deu
Guardo nas minhas memórias os seus ensinamentos
Guardo as pétalas de todas as rosas que você plantou nessa vida.
Não caminho descalço sobre o chão frio...
Não seu fazer tricô...
Não sei fazer a sua broa, o seu pão de queijo, seu bolo, sua pizza...

Não sei ser o que você foi
Simplesmente não sei.
Mas sei que você estará e sempre estará ao meu lado
Sei que você me olha com seus olhos já cansados
Sei que sua mão, mesmo já machucada, ainda segura a minha.

Eu ainda posso vê-la caminhando pela casa
Posso ouvi-la chamando a todos
Posso vê-la vigiando sobre os antigos óculos
Posso...E não, não posso
Não posso mais beijá-la
Não posso mais tocá-la
Não posso mais senti-la
Simplesmente não posso...

Mas quero...
Quero ser guerreira
Quero ser corajosa
Quero ser você
Quero ter sua fé
Ter seu dom
Ter sua alegria
Quero você
Quero saber fazer o que fazia
Saber amar como amava
Saber ensinar como ensinava
Quero sua sabedoria
Simplesmente quero...

E eu sei que eu não sou nada
Sei que você é a própria vida
E eu apenas o grão.
E é isso que me faz continuar a caminhada
É tudo isso que me faz ter coragem, garra e força para continuar
E você é meu propósito
É meu início e fim
É você
Simplesmente você...
E se não for pedir demais, gostaria de ser metade, apenas metade do que a senhora foi."


Nenhum comentário:

Postar um comentário