Hoje fui ao hospital de novo. Para fazer ultrasonografia. Não, eu não estou grávida. Como disse minha irmã gêmea "só se for do divino espírito santo". A primeira vez que eu fui foi para fazer endoscopia, mas não vem ao caso discutir meus problemas.
Hoje, quando estava no corredor esperando para pegar o resultado do meu exame, uma senhora já idosa com seus 80 anos sentou-se ao meu lado com um sorriso no rosto. Naquela hora vi a minha avó olhando para mim. Deu uma saudade. Muita saudade. Lembro-me que minha avó sempre nos perguntava o que queríamos para o lanche, sendo que havíamos acabado de almoçar (coisa de vó). Lembro-me que toda manhã quando acordava no antigo barracão de Catalão ela me perguntava se eu queria escaldado (ÔôÔô trem bãooo) e não tinha como recusar.
O que me chateia é que quando Dona Julia (minha vózinha) era viva e minha mãe vivia insistindo para ficarmos com ela ao invés de irmos ao hotel da minha tia (www.maraturismo.com.br) eu ficava emburrada porque queria brincar com meus primos, nadar na piscina e mexer no computador. Hoje, quando estou em Catalão o que menos faço é sair da casa da minha vó. Diz um velho ditado que "só aprendemos a dar valor depois que perdemos". E realmente é assim. Desejaria nesse momento voltar no tempo e dizer ao meu velho "eu" o imenso valor que minha avó tem e não deixar ele desperdiça nenhum momento com ela. Além disso, entregaria ao meu velho "eu" uma poesia:
"Eu não sou...
Simplesmente não sou...
Não sou a pessoa que você foi e sempre será
Não sou a pessoa que gostaria de ser.
Não tenho as mãos grossas
Grossas pelo seus grandes feitos, pela sua coragem, garra.
Não tenho seu dom
De amar, acolher, ajudar e compreender.
Não tenho sua força
Não tenho sua fé
Não tenho a sua alegria de viver
Simplesmente não tenho...
Mas guardo no meu coração
O amor eterno que você me deu
Guardo nas minhas memórias os seus ensinamentos
Guardo as pétalas de todas as rosas que você plantou nessa vida.
Não caminho descalço sobre o chão frio...
Não seu fazer tricô...
Não sei fazer a sua broa, o seu pão de queijo, seu bolo, sua pizza...
Não sei ser o que você foi
Simplesmente não sei.
Mas sei que você estará e sempre estará ao meu lado
Sei que você me olha com seus olhos já cansados
Sei que sua mão, mesmo já machucada, ainda segura a minha.
Eu ainda posso vê-la caminhando pela casa
Posso ouvi-la chamando a todos
Posso vê-la vigiando sobre os antigos óculos
Posso...E não, não posso
Não posso mais beijá-la
Não posso mais tocá-la
Não posso mais senti-la
Simplesmente não posso...
Mas quero...
Quero ser guerreira
Quero ser corajosa
Quero ser você
Quero ter sua fé
Ter seu dom
Ter sua alegria
Quero você
Quero saber fazer o que fazia
Saber amar como amava
Saber ensinar como ensinava
Quero sua sabedoria
Simplesmente quero...
E eu sei que eu não sou nada
Sei que você é a própria vida
E eu apenas o grão.
E é isso que me faz continuar a caminhada
É tudo isso que me faz ter coragem, garra e força para continuar
E você é meu propósito
É meu início e fim
É você
Simplesmente você...
E se não for pedir demais, gostaria de ser metade, apenas metade do que a senhora foi."
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