quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ela sabia...



Não precisavam lhe dizer que naquela chuva imprevissivel de dezembro, no cemitério da cidade aonde morava, o corpo de uma pessoa muito querida estava sendo enterrada. O vestido preto que usava clariava ainda mais sua pele já pálida. Não queria ser protegida pelo guarda-chuva, mas os entes insistiam. Por educação fez as vontades deles, mas no fundo desejava limpar a alma com as gotas da chuva.

Quem estava sendo enterrado, era pele da sua pele, sangue do seu sangue, alma da sua alma. Na madrugada anterior, recebera o telefonema dos pais lhe dizendo quem havia partido. Sempre acreditou que quando esta hora chegasse, ela seria capaz de sentir metade do seu ser partindo para o nada. Mas enganousse, somente sentiu esta dor quando o caixão desceu na terra molhada.

Permaneceu. Ficou até todos irem embora. E finalmente libertou a única lágrima que guardou durante todo o velório. E deixou mínimos detalhes de todas as lembranças tomarem a cabeça. As brigas, os abraços, as risadas, os consolos, as gracinhas e brincadeiras. Porque a última rosa deixada sobre o caixão deveria ser dela e de sua promessa.

Ela conhecia como ninguém seu próprio irmão. Ela sabia, simplesmente sabia, que ele jamais cometeria suicídio. E cumpriria sua promessa de fazer justiça. Ou vingança, se preciso. 

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