quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Naquela Noite. Naquele Dia.



Naquela noite ela gostaria de não ter chorado por tristeza e não ter deixado a última lágrima cair. Nem de tê-lo abraçado sem dizer "eu te amo". Também não gostaria de ter discutido com o pai sobre o namoro que não dava certo. Ou com a mãe sobre as suas cobranças. Também não gostaria ter ignorado os irmãos e ter recusado ajudar a irmã, quando a única dúvida que ela tinha era apenas uma opinião sobre o que vesti para encontrar alguém especial.

Naquela noite ela não gostaria de ter bebido para esquecer quem ela adorava lembrar. Não gostaria de ter conversado com desconhecidos na tentativa de encontrar velhos amigos. Não queria contar segredos de suas amigas nem envergonhá-las. Não pretendia sair acompanhada da falsa felicidade nem se enganar.

Naquela noite ela não gostaria de ter entrado no carro com uma garrafa de uísque. Nem beijar um homem que não conhecia e que dizia a todos que eram amigos. Naquela noite desejou não estar chovendo. Chovendo na escuridão da sua alma perdida. Naquela noite desejou não encontrar crianças nas ruas que buscavam esmolas de amor. Naquela noite não pretendia fechar os olhos, não pretendia soltar as mãos do volante e nem se deixar levar pela loucura de uma dose de infelicidade.

Naquela noite ela não pretendia ficar cega. Nem ser salva por crianças de rua. Não pretendia sobreviver...

Naquele dia ela gostaria de se lembrar dos nomes de quem lhe salvou. Gostaria de chorar e chorou. Gostaria de abraçar e dizer "Eu te amo" e abraçou e disse o que deveria ser dito. Gostaria de ouvir mais seus pais e passou a ouvi-los. Gostaria de abrir os olhos e enxergar, mas só veria a escuridão. Não era possível lembrar dos anjos, pois os cacos de vidro lhe tiraram a visão de seus rostos.

Naquele dia ela "enxergava" como ninguém enxergaria a vida. Ela sentiria a segurança e a certeza que ninguém compreenderia. Mas a partir daquele dia ela jamais esqueceria daquela noite.

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